quinta-feira, 14 de maio de 2009

Glaucoma

O Glaucoma é uma das principais causas de cegueira em Portugal; uma doença crónica que afecta o nervo óptico. Consiste, geralmente, no aumento da pressão intra-ocular (PIO), mesmo não tendo esta uma relação directa com a doença, pois pode acontecer que uma pessoa desenvolva danos no nervo tendo pressões relativamente baixas, e outra com os níveis da PIO altos sem apresentar lesões durante anos. Esta enfermidade causa sofrimento e perda das fibras nervosas que transportam a informação visual até ao cérebro, levando a que a visão seja, em ultimo caso, perdida.
É evitável, se detectada a tempo; se não for tratado, o glaucoma pode conduzir ao dano permanente do disco óptico da retina, que leva a uma atrofia progressiva do campo visual que pode ir até à própria cegueira.
Apesar de a doença ter como principal característica o aumento da pressão intra-ocular, que é detectada apenas através de exames oftalmológicos, a perda de visão é a maneira mais alertante para a situação (sendo que existem casos de glaucoma em que os níveis de PIO estão “normais”), no entanto, quando o paciente começa a perder a visão pode já ser tarde demais.
Não existe ainda cura para esta patologia, no entanto, há formas de prevenir, como veremos mais à frente.

A pressão intra-ocular (PIO)
A pressão intra-ocular varia do balanço entre a produção e o escoamento de humor aquoso. O humor aquoso trata-se do líquido que preenche a porção frontal do olho e desempenha uma série de funções vitais para o bom desempenho da visão. Este líquido é produzido numa estrutura chamada corpo ciliar, que fica logo atrás da íris; estrutura ricamente vascularizada e que tem a função de fazer este liquido através do sangue. Daí passa pela pupila para a câmara anterior (frontal) e depois sai do olho através do canal de Schlemm para as veias.
Todo este processo de produção e escoamento obedece a determinados estímulos nervosos. Os chamados betabloqueadores, que agem de maneira a inibir algum receptor relacionado com a produção do humor aquoso. Inibindo a produção, podemos baixar a tensão intra-ocular.
Deve ser medida regularmente, pois como não apresenta um sintoma visível, pode estar elevada mesmo sem darmos por isso. Isto faz-se através de um procedimento simples e indolor chamado tonometria. As medições que ultrapassem os 21 mm são consideradas elevadas.
Existem medicamentos e intervenções capazes de regular esta produção. (IMG

Tipos de Glaucoma
Esta patologia divide-se em quatro tipos: glaucoma de ângulo aberto, glaucoma de ângulo fechado, glaucoma congénito e glaucoma secundário.

Glaucoma Primário de Ângulo Aberto
Este é o mais comum (90%), frequentemente sem dor. A existência de um impedimento do escoamento do humor aquoso do olho pode ser uma das principais causas desta doença. Este líquido é produzido num tecido no interior do olho chamado corpo ciliar, fluindo até à câmara interior através da pupila. A malha trabecular drena líquido para o canal de Schlemm, e daí até ao sistema venoso. A existência de alguma pressão intra-ocular é normal, sendo que esta é causada pela presença de uma certa resistência ao fluxo do humor aquoso através da malha trabecular e do canal de Schlemm. O resultado da pressão intra-ocular demasiado alta (valor superior a 21,5mm Hg) nas paredes do olho é a compressão das estruturas oculares. Aliás, em um terço dos casos de glaucoma primário de ângulo aberto, o PIO registado encontra-se normal, a isto chamamos Glaucoma de Pressão Normal. Por norma, é um tipo de glaucoma diagnosticado tardiamente, pois exigem o conhecimento das medidas do PIO, e estas nem sempre vêm juntamente com os exames ao nervo óptico. (IMG)

Glaucoma de Ângulo Fechado
O glaucoma de ângulo fechado é, principalmente, caracterizado pelo aumento súbito da pressão intra-ocular. Ocorre quando a pupila dilata e bloqueia o fluxo do fluido através dela, levando a íris a bloquear a malha intra-ocular. Pode causar dor e reduzir a perspicácia visual (a chamada visão turva), e pode ainda conduzir à perda visual irreversível dentro de um curto período de tempo.
Sendo considerado um caso de emergência oftalmológica, requer tratamento imediato. Além da perda de visão característica da doença, muitas pessoas vêem um halo (um anel de luz que rodeia um objecto). (IMG)

Glaucoma Congénito
Glaucoma Congénito é uma doença rara transmitida geneticamente, atingindo assim os bebés. Doença em que os recém-nascidos nascem com maiores globos oculares e córneas baças. Nestes casos, crê-se que a pressão elevada é causada pela redução da permeabilidade intra-ocular. O único tratamento disponível é mesmo a cirurgia. (IMG)

Glaucoma Secundário
O Glaucoma Secundário dá-se como uma compilação de várias condições médicas como cirurgia ocular, catarata avançada, diabetes ou uso de corticóides (ou cortisona, que é geralmente, usado no tratamento de doenças alérgicas). (IMG)

Sintomas
O Glaucoma pode ter vários sintomas, mas um que é certo é a perda de visão, que no início pode ser subtil podendo até nem ser notada, e atinge primeiro a visão periférica. A presença da doença é notada, geralmente, quando o paciente começa a sentir a visão pesada. Caso esta não seja tratada, o campo visual torna-se cada vez mais estreito, a visão central escurece e acaba por levar à cegueira do olho afectado.
O olho pode ficar vermelho, a córnea opaca, e o paciente pode começar a ver halos luminosos e a ter visão borrada. Dependendo do aumento da pressão, a dor pode ser tão intensa que leva a náuseas e vómitos.
Muitos dos ataques provocados por esta doença ocorrem em ambientes escuros como teatros e cinemas; ambientes estes que causam a dilatação da pupila, ou seja, o seu aumento, havendo maior contacto entre a lente e a íris, deixando o ângulo estreito, desencadeando um ataque. Podem também ocorrer durante períodos de stress, ou com o uso de drogas como anti-depressivos, medicações para a gripe, anti-histamínicos, e algumas medicações para o tratamento de náuseas.
Estes ataques podem terminar quando o paciente é exposto à luz ou quando vai dormir.
Esperar pela chegada da perda visual não é a melhor maneira de lidar com a situação, pois a perda visual causada pelo glaucoma é irreversível. No entanto, hoje em dia há métodos para a prevenir ou retardar.
As pessoas sob o risco de desenvolver glaucoma devem consultar um oftalmologista frequentemente.
Quem são estas pessoas? Pessoas com casos de glaucoma na família têm cerca de 6% de probabilidade de desenvolver a doença; diabéticos e negros são mais propensos a desenvolver glaucoma de ângulo fechado; independentemente de tudo isto, todas as pessoas deviam fazer exames frequentes a partir dos 35 anos, aumentando a frequência com a idade.

O que fazer?
As perdas de visão podem ser demoradas, por vezes, mas severas; estas podem ser notadas pelo paciente através de exames à sua própria visão periférica.
Como fazer? É simples, isto pode ser feito fechando um olho e examinando todos os quatro cantos do campo visual, analisando a claridade e acuidade, e depois repetindo o mesmo processo mas com o outro olho fechado.
Caso sejam notadas anomalias, deve ser consultado um oftalmologista com urgência, onde será feito:
- um exame do nervo óptico para procurar possíveis lesões (oftalmoscopia); (IMG)
- inspeccionar o ângulo de drenagem do olho (gonioscopia); (IMG)
- e ainda uma verificação dos níveis de pressão intra-ocular através da tonometria. (IMG)
Em caso de suspeita de uma possível lesão no nervo óptico, deve ser realizada uma campimetria, uma oftalmoscopia a laser, ou ainda uma tomografia à cabeça só para verificar a possível presença de pressão alta no crânio. (IMG)


Tratamentos
No tratamento do glaucoma, é necessário não esquecer que: as lesões já existentes são irreversíveis; o tratamento que existe actualmente é muito eficaz, porém, apenas serve para prevenir ou deter possíveis avanços das lesões; o tratamento é crónico, ou seja, para toda a vida, e que só mesmo o oftalmologista pode interromper ou mudar o tratamento.

Apesar da pressão intra-ocular elevada não ser a única causa do glaucoma, até ao momento, diminuí-la é o melhor tratamento.
Esta pode ser diminuída através do uso de medicamentos (colírios, geralmente). Há diversas classes de medicamentos para tratar glaucoma, com uma grande gama de medicamentos em cada uma delas:
- Agentes Beta-Bloqueadores (timolol e betaxolol), que diminuem a produção de humor aquoso, e cujos efeitos secundários podem ser alergias, espasmo brônquico, asma ou bradicardia.
- Medicamentos simpatomiméticos (epinefrina), que aumenta o fluxo do humor aquoso; pode provocar taquicardia e ansiedade, entre outros.
- Agentes mióticos para-simpatomiméticos (pilocarpina), que tratam da contracção do músculo capilar, reduzindo a malha trabecular de maneira a permitir o aumento do fluxo através das vias tradicionais; pode levar ao aparecimento de miopia, náusea, tremor, bradicardia, alergia conjuntival e das pálpebras.
- Inibidores da anídrase carbónica (dorzolamida), comprimidos por via oral que diminuem a secreção do humor aquoso através da inibição carbónica do corpo ciliar; provoca fadiga, falta de apetite, perda de peso, mal-estar gastrointestinal, sensação de baixa circulação sanguínea.

Caso o uso destes medicamentos não seja suficiente, há que recorrer a outro modo de tratamento: a laser-terapia, nomeadamente, a trabeculoplastia em casos de glaucoma de ângulo aberto, e iridotomia no glaucoma de ângulo fechado.
Quanto a cirurgias, a mais utilizada é mesmo a trabeculectomia, em que é feita uma bolha (câmara) na parede escleral do olho e uma abertura abaixo dessa bolha para remover a porção da malha trabecular. A bolha é fechada novamente, com cuidado. Esta abertura torna possível a saída do fluido através dela, levando à diminuição da pressão intra-ocular.

O Paciente
Geralmente, o paciente apresenta ofuscação quando está em locais muito iluminados ou fora de casa, e de iluminação insuficiente em ambientes interiores; por isso deve ser encontrado o nível ideal de iluminação quer dentro, quer fora de casa. Quando encontrado, nota um melhoramento no contraste visual.
Todo este desconforto provoca insegurança em andar na rua.
Por norma, desenvolvem cataratas com perda de brilho, luminosidade, contraste e fadiga visual. O uso de óculos com lentes amareladas devido aos filtros âmbar, melhora a performance visual.
Os pacientes que sofrem de glaucoma devem receber treino em orientação e em mobilidade assim que diagnosticado o quadro.

Recomendações
Devido ao facto de que esta doença provoca cegueira, que é evitável, e não dá sintomas nas fases iniciais, o tratamento é mais eficaz nas fases precoces. Para conseguir prevenir e não correr riscos, aqui estão algumas recomendações…

Vá ao oftalmologista cada 1 ou 2 anos se:
- Tiver mais de 35 anos;
- Algum familiar tiver glaucoma;
- Tiver miopia;
- For de origem Africana;
- Já sofreu alguma lesão ocular grave;
- Toma medicamentos, ansiolíticos, tranquilizantes ou corticoesteroides;
- Sofre de doença cardiovascular.

Caso tenha glaucoma, não se esqueça:
- Nunca interrompa o tratamento sem a ordem do oftalmologista;
- O tratamento é crónico, ou seja, é para sempre.

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